A Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, chefiada em 1987 pela então primeira-ministra norueguesa Gro Harlem Brundtland, definiu pela primeira vez o conceito de Desenvolvimento Sustentável no documento Brundtland Report como “Aquele que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades.” (Organização das Nações Unidas). Apesar de tudo, o termo sustentabilidade aplicado à construção civil é bastante recente.
A partir dos anos 80 muitas obras foram apelidadas de “sustentáveis” e com esse grande crescimento surge um novo termo técnico: o edifício inteligente, que resume a maior capacidade de eficiência energética e utilização adequada de tecnologia. Já mais tarde, nos anos 90, a Earth Council, rede de Organizações Não-Governamentais (ONG’s) e indivíduos dedicados à promoção do desenvolvimento sustentável, divulgou que a partir dos anos 80 a sociedade começou a utilizar os recursos do planeta de maneira abusiva, excedendo em 20% a capacidade de suporte global. No final dos anos 80 e início da década de 90 as questões ligadas à sustentabilidade surgem maioritariamente ligadas à vertente ambiental fruto da grave crise energética global que se estavaa a atravessar e o impacto causado pelo grande consumo de combustíveis fósseis originado pelo boom no crescimento das populações e cidades. Nessa época vulgarizou-se a construção de International Style, de formas retas com compartimentos iluminados e minimalista na decoração, com divisões amplas, o que causou impacto na produção de blocos de vidro e um elevado consumo de energia nas décadas posteriores. Durante esta época percebeu-se que não é a construção per si a controlar todas as condições ambientais, mas sim os projetos de arquitetura e engenharia é que vão permitir que as edificações sejam capacitadas de um maior conforto ambiental e maior eficiência energética. O consumo de energia para climatização e para iluminação não foram as únicas áreas que sofreram alterações no campo da sustentabilidade, mas também a investigação de novas técnicas de construção e desenvolvimento de materiais. Nos dias de hoje, um edifício assume um papel fundamental na sustentabilidade de uma cidade, considerando a sua localização, infraestruturas, e otimização na utilização de recursos como a água, energia e materiais. Em Portugal, a construção é responsável pela produção de 7,5 milhões de toneladas de resíduos sólidos, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística.
A Escolha dos Materiais
A escolha equilibrada dos materiais de construção é um fator importante para a considerar para uma construção sustentável, considerando três fatores essenciais: o desempenho térmico, a sua disponibilidade no mercado e a energia necessária à sua produção. Como refere o estudo Afinal o que é a Sustentabilidade na Construção, um material até pode tornar a vida útil de um prédio longa e por isso sustentável, contudo se esse material teve um elevado custo ou se o percurso desde a sua origem até à obra for uma distância considerável (aproximadamente 100 quilómetros), o projeto já não será considerado tão sustentável. O mesmo estudo aponta os principais critérios a considerar na escolha dos materiais,
- Não tóxicos
- De baixa energia incorporada
- Recicláveis
- De maior durabilidade
- Taxa de reutilização e recuperação de resíduos elevada
- Com origem em fontes renováveis
- Associados a baixos níveis de gases de estufa
- Associados a baixos níveis de toxicidade
- Que permitam uma análise do Ciclo de Vida
- Reduzir: Considerar se os materiais escolhidos são estritamente necessários para o máximo desempenho energético-ambiental do edifício durante o seu ciclo de vida;
- Reutilizar: Os materiais selecionados são oriundos de demolições e ou desmontagens e são utilizados de forma a poderem ter novas aplicações após o fim de ciclo de vida do edifício;
- Recuperar: Antes de substituir os materiais, ponderar se é possível a sua recuperação;
- Eliminação Responsável: Considerar se apenas os materiais que não têm utilização posterior são eliminados e se a sua eliminação não será nociva ambientalmente.
Materiais de construção amigos do ambiente
No que diz respeito a sustentabilidade os materiais de construção assumem cada vez mais um papel fulcral. No artigo do 3º Congresso Nacional de Construção realizado em Coimbra no ano de 2007 intitulado Construção Sustentável. O caso dos materiais de construção, de 2007, existem cinco tipos de materiais considerados “Amigos do Ambiente”, são eles:
Materiais com origem nos resíduos
De acordo com alguns autores, o melhor método para tornar o setor da construção civil sustentável passa por incorporar resíduos com origem noutras indústrias nos materiais de construção, existindo um corpo de investigação que, sendo o betão o material de construção mais utilizado no mundo, incorporou neste a utilização de resíduos com características pozolânicas, cinzas volantes, escórias de alto-forno, sílica de fumo, cinzas de resíduos vegetais, cinzas de RSU e resíduos de vidro. Existe igualmente investigação na integração de resíduos com origem na indústria automóvel, de plásticos, têxteis, pó de pedra e da indústria cerâmica.
Materiais Duráveis
Materiais oriundos de fontes renováveis
A utilização deste tipo de materiais contribui de modo decisivo para a sustentabilidade dos materiais de construção, como por exemplo a madeira e o bambú, desde que a sua utilização seja feita de modo responsável respeitando os ritmos de renovação.
Materiais Recicláveis
Nestes materiais incluímos quase todos os materiais metálicos e os de origem geológica. A opção por materiais com esta origem em detrimento da utilização de novas matérias-primas reduz significativamente o impacto ambiental negativo. Um material reciclado tem sempre vantagem, de acordo com o autor do artigo, sobre um produto originalmente com selo “verde” mas que não é reciclável.
Materiais de Baixa Energia
A redução de padrões energéticos resolve um problema económico e também ambiental. Neste estudo é indicado que 15% do total de energia necessária para a construção dos edifícios é gasta nos materiais. Como tal, a escolha dos materiais utilizando a sustentabilidade como critério contribui de forma decisiva para uma construção mais responsável. Alguns autores consideram que a correta escolha dos materiais de construção reduz em 30% as emissões de dióxido de carbono (CO2).